BARROCO SINO-BRASILEIRO
Mateus Rosada, Vanessa Brasileiro & Alexandre FragaA OBRA
Ao longo da segunda metade do século XVIII as chinoiseries, especialmente a pintura de charão, vão desaparecendo dos interiores dos templos à medida que o gosto pelo rococó se torna dominante e o barroco deixa de ser o padrão. A despeito de trazerem temáticas leves e frugais, perfeitamente adaptáveis e condizentes com as cenas das decorações rocaille, as pinturas à imitação da laca chinesa ostentavam colorações por demais pesadas para os novos padrões. A paleta clara e luminosa do rococó não aceitou, nos domínios ocidentais do império português, os fortes contrastes dos fundos escuros azulados, esverdeados, vermelhos ou negros com os motivos dourados. É interessante que em outros países as chinesices vão conhecer um período de efervescência justamente com a ascensão do rococó, mas ela não se dá pelos acharoados, mas em pinturas, tapeçarias e têxteis de paleta clara, numa outra chave de leitura do oriente pelos ocidentais.
É certo que as constantes mudanças da decoração interna das igrejas, a substituição de peças barrocas por novas, de padronagens rococós e neoclássicas, acabou por apagar muitas das pinturas à moda da China existentes nos espaços sacros luso-brasileiros. Os remanescentes que, como vimos, ainda subsistem em número até considerável, nos dão uma percepção, ainda que lacunar, da riqueza e complexidade dos interiores barrocos e da amplidão de artifícios que esse estilo se utilizava para seduzir o espectador. As chinoiseries são, de fato, uma das maiores provas da saborosa – e inevitável – assimilação de elementos exóticos realizada por um império ultramarino que estava presente tanto no ocidente como no oriente.