MIL E UM CONTOS ARQUITETÔNICOS
Rafaela NonatoA OBRA
Bucara e Samarqanda pertencem ao Ubezquistão, país referência da arquitetura islâmica. As cidades compartilham uma série de similaridades, dentre elas, a presença de madrassas, mausoléus e mesquitas no tecido urbano.
A intervenção “Mil e Um Contos Arquitetônicos” faz referência a famosa coletânea “Mil e Uma Noites”, narrativa em que Samarqanda é citada em vários pontos. A intervenção retrata elementos arquitetônicos de grande relevância para as duas cidades, e se apropria dos azuis que remetem às grandes cúpulas destacadas nas paisagens.
O objetivo desta produção é mesclar as particularidades de Bucara e Samarqanda em uma única obra, um conjunto que esquematicamente faz menção aos ladrilhos e mosaicos presentes na arquitetura local.
Impressão de imagens arquitetônicas de referência de cada cidade em papel vegetal. A composição ao longo do vidro faz menção a uma parede de ladrilhos, presente na arquitetura das duas cidades.
Medidas: Impressão sobre papel vegetal de módulos 12 cm x 12 cm em tons de cinza e azul. Os elementos estão dispostos em quatro composições de 85 cm x 134 cm.
Cidades EXPOCHINA: Bucara | Samarqanda
Rafaela Nonato
O PROCESSO
O processo criativo dessa intervenção se iniciou com o desejo de criar algo que apresentasse algum elemento significativo na paisagem das duas cidades. A priori a ideia era elaborar algo que tivesse o formato das cúpulas azuis, que são extremamente marcantes na arquitetura de Bucara e Samarqanda.
Em relação à materialidade, o papel foi priorizado, visto que, a cidade de Samarqanda tem uma relação histórica com o material. A produção de papel foi iniciada pelos chineses, entretanto, durante uma batalha no território de Samarqanda alguns mestres chineses na produção de papel foram capturados. Com isso, os processos foram repassados e a cidade tornou-se um centro de fabricação de papel. No século XX a UNESCO realizou uma iniciativa para fomento dessa prática tradicional em Samarqanda.
O primeiro protótipo consistia em uma estrutura inteiramente de papel, de seda e cartão em duas tonalidades de azul. O intuito era de que tivesse um formato de cúpula e pudesse ser manipulado para frente, como uma espécie de “arquivo/pasta sanfonada”. O interior dos módulos sanfonados receberiam a impressão de diferentes composições com colagens de imagens selecionadas. O critério da seleção era escolher fotografias de monumentos arquitetônicos conhecidos com ângulos diferenciados, algo diferente das imagens padronizadas de fachadas.
A ideia inicial foi discutida em conjunto com o grupo curatorial da exposição e algumas questões foram levantadas, como a escala (elemento muito pequeno em relação à porta de vidro onde a princípio seria instalado), o tratamento das colagens que iriam fazer parte do conjunto, como posicionar a estrutura (colado no vidro ou apoiado em algum elementos) e sobre a segurança e forma de manusear essa concepção.
A realização do protótipo foi um pouco conturbada, foram realizados alguns testes em diferentes tamanhos, encontrando-se problemas de estabilidade, o papel de seda colou mais do que necessário e não se tornou sanfonado… O processo deu relativamente certo quando a uma escala foi reduzida para uma A4, os erros dos testes anteriores foram revisados e consequentemente, o resultado se aproximou do imaginado.
Em meio a isso, propus o diálogo entre essa estrutura e uma vedação de parte do vidro da porta, com elementos na mesma temática que ao todo se assemelhavam aos ladrilhos, mosaicos e azulejos presentes na arquitetura local.
O desenrolar dessa intervenção se deu com o abandono dessa estrutura articulada, e com os esforços direcionados a essa espécie de mural que deveria ser esquematizado e dimensionado. Em seguida, se deu a análise das possíveis dimensões para os módulos, e isso influenciava tanto como eles se comportariam em conjunto, quanto qual seria a metragem que aproveitaria melhor a impressão nos tamanhos A4, A3, A2 ou A1.
Particularmente, a seleção e tratamento das imagens foi o processo mais prazeroso. Foi escolhida uma paleta de cores que, ainda que não se assemelhasse às cores vermelha e amarela temáticas da exposição, foi essencial para definir uma identidade visual que tivesse um significado muito intrínseco às duas cidades e que valorizasse a obra e o contexto de exposição na EAD. O fundo das imagens de referência foi substituído por uma das quatro cores sólidas definidas (cinza e três tonalidades de azul), e por fim, elas receberam um filtro no mesmo tom do fundo.
As imagens foram impressas no tamanho 12cm x 12cm que mais se adequou às dimensões da porta de vidro e ao papel vegetal tamanho A1. Ao todo foram 28 imagens por folhas, com 11 impressões de todo o conjunto. Por fim, o esquema de montagem conta com dois pequenos vazios que recebem os recortes de cúpulas azuladas, retomando a essência inicial da intervenção.